Novas tecnologias reduzem custos, tempo e ajudam na gestão ![]() Menethei Barreto Vianna, da BrasilAgro, diz que ao registrar turnos e escalas em diferente regiões a empresa consegue identificar os desafios de cada lugar - Foto: Claudio Belli/Valor
A analista de recursos humanos Fernanda Lopes costumava gastar dez dias do mês de trabalho para registrar o ponto dos 400 funcionários contratados para a temporada de safra na BrasilAgro. Quando o gestor de cada departamento recebia
o relatório de seus times, o tempo era curto demais para traçar uma estratégia que compensasse as horas extras. Urgente era fechar a folha o mais rápido possível, entender incongruências referentes a, por exemplo, atestados e pagar as horas
extras.
Desde maio, os registros são feitos instantaneamente. Fernanda e seus três colegas de RH agora gastam este um terço do mês que economizam com o uso da nova tecnologia para resolver outros assuntos. “A nossa área começou a ter mais tempo
para cuidar de processos que eram inexistentes ou deficientes na gestão de pessoas”, diz Menethei Barreto Vianna, coordenadora de RH da BrasilAgro.
Tecnologia utiliza desde armazenamento de dados em
nuvem e geolocalização até reconhecimento facial
A empresa adotou o registro digital e está substituindo as soluções eletrônicas, como relógio de ponto e biometria, por um aplicativo que permite ao funcionário, no campo ou na cidade, realizar a marcação pelo celular. “Os gestores recebem os
dados na hora em que o sistema os reconhece, o que confere uma ferramenta diária para justificarem mudanças e, assim, trabalharem, ao longo do mês, as horas extras de suas equipes”, diz Menethei.
Com o novo sistema, a empresa conseguiu registrar de forma mais precisa escalas e turnos que eram diferentes dependendo da região, da equipe ou do departamento. “Começamos a implementar aos poucos para entender os desafios de cada lugar e a
necessidade de capacitar digitalmente as pessoas. Havia funcionários que nunca haviam mexido em um celular”, diz Fernanda. Segundo a empresa, o investimento foi compensado no primeiro mês de uso e o pagamento de horas extras diminuiu
em 20% no primeiro semestre deste ano. Até o fim deste ano, a previsão é atingir uma redução total de 35%. A BrasilAgro não é um caso raro.
Nos últimos três anos, cresceu o número de em presas que adotam ou fornecem soluções digitais para registro de ponto. “Em 2016, quando abrimos, havia três empresas e nós. Atualmente, existem mais de 200. Com a tecnologia 5G, o número
tende a aumentar”, diz Hendrik Machado, CEO da Ponto Mais, empresa que forneceu a solução para a BrasilAgro. O empreendedor defende que a maior busca de soluções no mercado brasileiro ocorre por três razões: economia de recursos, redução de horas extras e uma visão crescente de que produtividade não é “sinônimo da quantidade de tempo trabalhado”.
O crescimento da procura pelo ponto digital é confirmado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). “Esse aumento faz sentido porque a tecnologia que o propicia, que utiliza desde armazenamento de dados em nuvem, geolocalização e reconhecimento facial, ficou mais barata. Além disso, antes era necessário integrar o hardware do relógio de ponto com o software para processar informações. Hoje, não é mais necessário”, diz Paulo Sardinha, presidente da associação.
No pano de fundo desse movimento, está a aprovação de uma portaria 373 do Ministério do Trabalho, em 2011, e a Reforma Trabalhista, que oficializou o home office como trabalho remoto, instituiu novas possibilidades de jornadas e tornou
obrigatória a marcação de ponto para empresas com mais de 10 funcionários em regime CLT. “As mudanças permitiram que as empresas, via negociação coletiva, pudessem estabelecer formas alternativas de controle da jornada, inclusive à
distância, se mantidas a segurança e autenticidade desse processo”, diz Wolnei Ferreira, diretor jurídico da ABRH Brasil.
Grande parte das novas soluções digitais recriam, em um dispositivo móvel dos próprios funcionários, uma experiência que antes eles só tinham acesso frente a frente ao relógio de ponto, e, geralmente pegando fila. Atualmente, já é possível até
bater ponto com smartwatch. Recentemente, a LG lugar de gente, empresa que faturou R$ 107 milhões em 2018, integrou o Apple Watch à sua plataforma de soluções tecnológicas para RH. “Temos um grande banco como cliente e mapeamos
todas as agências. Definimos um raio de 300 metros em torno delas, o que permite ao funcionário bater ponto no seu aplicativo ou no seu smartwatch, caso tenha um. Pode fazê-lo já no estacionamento, antes de sentar na sua mesa ou dentro da
empresa, após realizar o login de seu computador”, diz Marcello Porto, diretor de produtos da empresa.
Definir a posição do funcionário por GPS é forma utilizada pelas soluções digitais para autenticar que ele está onde a empresa espera que esteja, por questões de controle de jornada para principalmente fins trabalhistas. Até pouco tempo, porém,
adotar a solução digital esbarrava em uma dificuldade técnica: ausência de internet em tempo real. “Nós precisávamos deslocar nossos funcionários para um lugar específico para registrar o ponto. Em alguns casos, perdíamos uma hora somente no deslocamento”, afirmou Alexandre Carvalho da Silva, gerente de TI da Bom Futuro, empresa de agricultura com 7,5 mil funcionários sediada no Mato Grosso. O resultado, segundo o executivo, era o pagamento de horas extras sem correlação com aumento de produtividade.
Ao lado do RH da companhia, eles procuraram a TOTVS, que já era uma fornecedora, e pediram que ela adaptasse a plataforma de inteligência artificial (IA) desenvolvida em 2017 para realizar a batida através de um dispositivo móvel. Atualmente 150 coordenadores de campo da Bom Futuro fazem a batida on-line de seus times no campo. “Quando o tablet ou o celular que registrou as batidas é conectado ao wi-fi, os dados são carregados e esse fluxo vai para o RH, que confirma e gera o recibo”, diz Vicente Goetten, diretor do TOTVS Labs.
O RH precisou providenciar a inserção de um código em todos os crachás, para a batida com QR Code e, no caso do reconhecimento facial, irá começar utilizando a fotografia que o funcionário concedeu ao entrar na empresa. A ideia é que o sistema
vá melhorando a eficácia da identificação à medida que novas fotos forem geradas. Diferentemente da biometria ou cartão, por exemplo, cada batida de ponto, tem o poder de gerar uma nova informação e criar uma gestão mais analítica de pessoas.
No banco Votorantim, digitalizar a batida é uma ferramenta importante para a mudança cultural que o banco empreende e que inclui a flexibilização de jornada, segundo Eduardo Juc, gerente executivo de recursos humanos. Há um ano, o banco permite que seus funcionários elegíveis à batida de ponto escolham qual intervalo de oito horas desejam trabalhar, entre 6h até 22h. “O ponto eletrônico é burocrático e restringe os colaboradores ao espaço físico da empresa. Com a solução digital, que utiliza geolocalização, conseguimos registrar e ter maior controle sobre o trabalho remoto, home office e essa nova dinâmica de horários”, afirma Juc.
A implementação do novo sistema está em fase piloto e estará disponível a todos os funcionários em outubro, quando o banco lançará uma campanha de engajamento para a utilização das novas ferramentas. O desafio técnico, segundo Juc, é integrar os vários sistemas que o RH utiliza para administrar, registrar, controlar e processar a folha de pagamento. “Gastamos muitos meses calculando variáveis para garantir uma integração com segurança e eficácia”, diz. Ele calcula, que quando a nova solução estiver rodando, o RH irá economizar 30% do tempo que atualmente gasta processando o ponto.
A economia com a aquisição, manutenção do equipamento e compra recorrente de bobinas para gerar recibo, um fator que por si só já é atrativo, segundo as empresas entrevistadas. A maioria das novas soluções é adquirida no formato de assinaturas mensais. No caso da Ponto Mais, por exemplo, a assinatura para o menor número de funcionários começa em R$ 40.
Segundo a Dimep, tradicional fornecedora de relógios de ponto, com 64 pontos de venda e 11 filiais no país, o equipamento capaz de processar informações de até 100 funcionários custa R$ 1,5 mil e o preço é de R$ 2 mil se a empresa contar com 500 funcionários. Nos últimos anos, a empresa empreendeu sua própria transformação digital e lançou uma plataforma para gerir internamente o registro que os funcionários fazem no relógio.
Ela também investe em softwares, soluções de computação em nuvem e formas de oferecer o serviço de ponto com um olhar menos processual e mais people analytics, segundo Shirlei Lima, gerente de produto da Dimep. Atualmente, quase metade dos clientes buscam soluções híbridas, que incluem o digital. “O uso do relógio tende a diminuir e pulverizar. Mas, a despeito do movimento de gestores de RH que olham o mercado de maneira mais ágil e das startups, ainda há a indústria tradicional, as redes de hospitais e as escolas, por exemplo, onde o relógio continua sendo solicitado. As pessoas confiam nele por uma questão de tradição ou de cultura”, disse.
Na avaliação de Paulo Sardinha, da ABRH, a escolha da forma como se registra o ponto não é só uma questão de economia. “Ela reflete a gestão a empresa - mais aberta, fechada, controladora ou flexível. No fundo, estamos falando sobre como é estabelecida a relação entre os funcionários e a empresa”, disse. Reflete também, segundo as empresas, a preocupação empresarial de manter o controle sobre as horas extras dos funcionários para evitar, principalmente, imbróglios trabalhistas. Algo que não deve desaparecer de forma significativa, acreditam os fornecedores de soluções de ponto digital, independentemente da sanção de MP de Liberdade Econômica, que propõe o registro do ponto em situações de exceção.
Valor Econômico - Carreira - Por Barbara Bigarelli — De São Paulo
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